13 de março de 2010
O FORASTEIRO POÉSIS
Há muitos e muitos anos atrás, quando o coração do homem parecia vazio e sua relação com o próximo não passava de troca de palavras frias que se designavam apenas, para a troca de informações e a transmissão de ordens ou para manter a sobrevivência da espécie.
Surgiu alguém por aquelas bandas, que ninguém sabia de onde tinha vindo. Segundo, os moradores daquele lugar, poderia tratar-se de um Forasteiro vindo de terras bem distantes, tão distantes que as formas de comunicação que ele se utilizava, jamais tinha se escutado falar por aquelas bandas, nem na tradição oral que tinham e nem nos registros guardados na preciosa biblioteca onde registravam as palavras mais importantes que proferiam.
Havia uma peculiaridade muito grande na forma de falar, no modo como este forasteiro utilizava-se das palavras, diferentemente do modo como que as pessoas daquela localidade estavam acostumadas a utilizar. Isso de certa maneira as encantava. A diferença seduz o ser humano, desde que mundo é mundo.
Ele não apenas utiliza-se da língua para trocar informações ou para transmissão de ordens, mas a utilizava para falar de coisas que habitavam a alma humana, segredos que até então, nunca tinham virado palavras escritas ou proferidas, entretanto, sempre estiveram lá dentro do pensamento; do coração humano. No fundo, todos da localidade estavam esperando a chance e o impulso de alguma coragem, que pudesse ousar dar forma em atos publicáveis, através de palavras a estas coisas que achavam estranhas e que habitam de suas almas.
Mas a população local não sabia como materializar isso em palavras, preferia sufocar dentro da alma estes sentimentos que sempre desejaram tornarem-se palavras. Na verdade, eles tinham medo de quebrar a regra local sobre a funcionalidade da língua, uma regra que ninguém sabia quem havia criado, que desde sempre foi regra, que assim sempre funcionou, mesmos que não satisfizesse a todos; ninguém nunca a questionou. As pessoas daquela localidade tinham um conformismo que silenciosamente os incomodava, mas como o incômodo ficavam em silêncio, todos tinha a impressão que estavam inconformados sozinhos e por isso não questionavam.
Mas depois de conhecerem o Forasteiro, as pessoas da localidade ficavam a pensar e a sussurrar pelos cantos com aqueles que lhes eram mais próximos em um tom de desconfiança e desejo de experimentar, sobre como podia haver alguém assim, que não tivesse medo de falar de coisas que tinha na alma, por exemplo: o amor, o medo, o desejo, a fúria, o sonho, o sofrimento, a saudade, a felicidade, as aventuras vividas, as derrotas e conquistas, as coisas da natureza das mais simples e cotidianas aos fenômenos mais estranhos, falava de coisas que aparentemente só existiam dentro da gente.
– Isso mesmo! Coisas da imaginação. Algumas feitas de fragmentos ou pedaços inteiros de verdade, outras de gostosas ilusões e neste seu jeito, junto com tantos outros que o Forasteiro tinha de usar as palavras. Ele se comunicava, transmitia informações, provocava movimentos que moviam os corpos de forma mais rápida que as palavras de ordens que aquela população utilizava-se, eles não sabia que quando se apropriavam da forma de escrever e de falar do Forasteiro, eles ficavam hipnotizados pela emoção; sua forma de utiliza-se das palavras fazia uma das coisas mais difícil na aqueles humanos que simplesmente seguiam ordens: fazia uma tal de poesia nascer no coração, tomando forma nas palavras, nas vias orais e escrita de comunicação.
Desde então, a palavra e a comunicação naquela localidade passou a sofrer mutação, a relação entre os habitantes ficou mais próxima, reuniam-se pra conversar mesmo nos dias em que não estavam a trabalho pra eliminar a solidão, pra matar a saudade ou por simples diversão. A palavra na sua nova forma multifacetada de utilização trouxe a cada um que se apropriava desta nova configuração de uso, baseada na emoção: novas perspectivas para de viver, pensar, agir e sentir.
O Forasteiro, que passou por aquele lugarejo sem dizer seu nome; sem ninguém saber ao certo de onde vinha e o por quê tinha vindo, conquistou com sua linguagem aquela população. Que reconheceu a importância de sua vinda sem ser convidado, este passou a ser chamado por todos de Poésis.
Depois que ensinou com seu próprio exemplo de vida as pessoas daquela localidade a viver, pensar, sentir, produzir e reproduzir poesias; o homem sem mais nem menos sumiu do mapa, sem deixar paradeiro, sem dar explicações. Há quem diga que ele nunca existiu que foi fruto de um gostoso delírio coletivo, outros acham que ele foi pro céu, lugar de onde deve ter vindo. Há gente que imagina que ele foi visitar outros povoados que ainda não sabem fazer o uso poético das palavras, tem gente que diz que feito magia ele evaporou e sobrevive nas linhas e entrelinhas de poemas, lugar onde ele se eternizou.
O fato é que sempre que um verso é escrito ou proferido com emoção e alma, naquelas bandas, todos se lembram de um Forasteiro, que ali mesmo recebeu o nome de Poesis, só porque a poesia a eles ele ensinou.
Hoje há festival de poesia naquela terra, certamente o Senhor Poésis estará por lá
Desde então, a poesia se multiplicou e poetas como o Forasteiro se multiplicaram pelo mundo.
Gostei do texto Bruxinha.
Um beijo na tua alma.
besos
gosto desse teu jeito bonito de contar...
eu gosto de ti.
gosto daqui.
Maurizio
Belo texto minha querida amiga. Parabéns!
Beijos e ótimo final de semana pra ti e para os teus.
Furtado.
Bjos e continua...